TOPO - PRINCIPAL 1190X148

"Todas as Coisas Maravilhosas": como olhar para o outro e admirá-lo

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 11/07/2023 às 20:19:49

1. Receber bem seus convidados para que eles voltem!

Assim que entramos no teatro, fomos recebidos com todo amor do mundo. Isso é um dos primeiros motivos para irmos assistir ao espetáculo “Todas as Coisas Maravilhosas”. Em um mundo tão estranho como esse, dos dias atuais, ser abraçado e recebido calorosamente já é um atrativo e tanto.

2. Sorvete.

Como diz a sinopse, a dramaturgia apresenta um menino de sete anos que, em sua inocência, acredita que pode ajudar a mãe escrevendo coisas que ele considera maravilhosas para salvar a mãe de uma doença. Ele começa com sorvete. No entanto, cresce durante o espetáculo e, obviamente, as coisas maravilhosas também amadurecem. O personagem começa a alimentar sua lista com outras sensações e gostos. E é exatamente aí que os espectadores começam a se enxergar nessa montagem, que é de extrema delicadeza, que fala sobre um dos males do século XXI, segundo a Organização Mundial da Saúde: a depressão.

3. Seja positivo, creia em coisas boas!

O espetáculo, mesmo contando um drama que é muito frequente em nossas vidas, vem com uma mensagem repleta de positividade. Se não estamos em depressão, claro que conhecemos alguém atravessando esse momento difícil. Digo mais: extremamente cruel, uma briga desleal! Quando o artista para no meio do palco e fala: "está difícil, mas vai passar", é de fortalecer qualquer galho frágil, prestes a ser derrubado por uma brisa que seja. Sempre gostei do teatro educacional. Todos os livros de autoajuda me causam repugnância. No entanto, posso dizer que o motivacional, quando feito com verdade, me alcança. Posso dizer que é o caso dessa obra teatral, que vai além de uma cena, de um espetáculo.

4. Olhe para o outro.

A beleza do espetáculo é tão incontida e voltada ao humano que todos participam. Alguns espectadores encarnam o veterinário do cachorro do criança (o Chicote que se chamaria Scott); outro, a professora que se conectava com a criança através do teatro de animação (uma meia em uma das mãos), que - inclusive - é uma das cenas mais lindas que já assisti no teatro; e outro espectador encarna a futura namorada, a Sam. É um derradeiro de coletividade! Se a depressão está bem emparelhada com a solidão, nesse espetáculo aprendemos a nos ouvir, a olhar para o outro e admirá-lo, uma proposta muito interessante e necessária para o tema dessa montagem.

5. Cante

A direção musical não peca, pois soube dar ao espetáculo músicas tão animadas que nos levam ao amor e à felicidade. Foram assertivos! Músicas cantam o amor e dão o tom certo para a alegria, elevam os espíritos. Afinal, “quem canta, seus males, espanta”, assim diz o ditado popular. Sensacional!

6. Entenda o propósito do outro

O espetáculo é dirigido por Fernando Philbert. Quem conhece esse diretor sabe da sua força quando se fala em drama. Ele é astuto em trazer para o palco a dramaticidade. Em seu currículo estão espetáculos fortes, contundentes e premiados. Mas, nessa obra, tenho a sensação que Fernando tentou entender mais o que o teatro poderia oferecer, além de um bom entretenimento. Uma cura? Uma tentativa de ajuda? Porque é possível ver um artista tão real, entendido de cada palavra, que está em sua narrativa. Não acredito que um artista e seu diretor, diante de um tema tão sensível, estariam mais interessados em um troféu de ferro. A melhora de alguém desconhecido, já perdido ou desenganado por algum diagnóstico psiquiátrico é o prêmio.

Ao contrário do que se vê nos espetáculos, assistimos um ator que olha nos olhos do seu público. Que, com muita sutileza, fala com sua plateia, quebra a quarta parede, mas sem deixar alguém desinibido, desmerecendo ou envergonhando alguém, é tudo poético demais, humano demais. Não são levianos, parecem entender que ali naquela plateia pode ter um filho desesperado, uma mãe já sem expectativas, uma mulher perdida…

O diretor me pegou pelo pé! Risos.

7. Seja um voluntário, ajude quem precisa!

O espetáculo é completo, fala sobre o Centro de Valorização da Vida (CVV), rede de ajuda bem atuante, que fica vinte quatro horas pronta para qualquer pedido de socorro.

O CVV é digno de aplausos e reconhecimento. O espetáculo presta um serviço à sociedade quando apresenta essa associação civil sem fins lucrativos brasileira, de caráter filantrópico, fundada em 1 de março de 1962 na cidade de São Paulo, e que hoje é reconhecida como serviço de utilidade pública pelo Ministério da Saúde.

No dia 10 de março de 2017, o Ministério da Saúde firmou uma parceria com o CVV permitindo que as ligações se tornassem gratuitas.

O CVV funciona em todo Brasil. Você pode conversar com um voluntário ligando para 188 de todo o território nacional, 24 horas, todos os dias, de forma gratuita.

Em números absolutos, o Brasil é líder, entre os países latino-americanos, em suicídios.

8. Se preocupe menos com o material.

A obra não conta com cenário ou com figurino desenhados para o espetáculo. Muito pelo contrário, não tem. A premissa da obra está além disso. O que acontece nesse espetáculo é algo incomum, a começar pelas luzes acesas, elas não se apagam. Estamos ali para sermos ouvidos e ouvir, e também para sermos vistos. Lembrando que a depressão atua e se deleita na introspecção. Nesse caso, o espetáculo parece enfrentar os males dessa doença.

9. Faça as coisas que lhe dão prazer.

O artista Kiko Mascarenhas é um ser evoluído. Pode-se dizer que um artista apto para este papel, pois o faz sem parcimônia. Ele atua com beleza, há graça no artista. Está ali para atuar ou ajudar? Qual a medida de cada um? Confesso que me perdi, porque existe no ator uma verdade, não sei dizer ao certo se ali no palco tem um artista bem ensaiado ou um ser humano focado em ajudar, a trazer socorro. Somente quem tem experiência nesse assunto pode entender a força dessa obra e sua importância.

É dolorido ver uma família lutando contra a depressão, é uma luta que se trava e que, muitas vezes, leva pessoas a uma sensação de incapacidade. Mães pais, irmãos, todos ficamos de mãos atadas diante do caos instalado em nossas vidas. Então, fica impossível ver a obra somente como uma peça, ela vai além! Essa doença leva jovens à morte, mortes que muitas vezes ficam silenciadas pela vergonha dos familiares. Kiko leva o espetáculo com naturalidade, segura suas emoções. Ele brinca no palco, se entrega e nós o recebemos, entendendo - mais uma vez - , a missão do amado teatro, que é transformar!

10. Vá ao teatro

Ir ao teatro é aprender sobre a história do mundo, da cultura do outro, das relações e, quem sabe, até mesmo ajudar alguém que precisa de socorro urgente! Não há nada que substitua a arte quando falamos em relações humanas. Existe o esporte, que também atua bem próximo à cultura, que, inclusive, trabalha a autoestima.

Com a cultura aprendemos a olhar para o outro de maneira respeitosa, e admirá-lo também. E assistir Kiko Mascarenhas, ser abraçado por ele, é um conforto a alma. É sentir-se importante, quando, na verdade, somos. Mas, por um infortúnio, muitas vezes algumas pessoas ou acontecimentos tentam nos provar o contrário. E, por isso, precisamos nos defender, proteger nosso intelecto com muito afinco, alimentar com coisas que trazem benefício, no caso se emaranhar com “Todas as Coisas Maravilhosas”.

Fiz a minha lista!

Sinopse

Aos seis anos, um menino descobre que sua mãe sofre de depressão. A partir daí, ele começa a escrever listas de todas as coisas maravilhosas que podem fazê-la recuperar a vontade de viver e as deixa em locais estratégicos, para que ela encontre e redescubra “motivos” para continuar viva.

Ficha Técnica

Texto: Duncan Macmillan e Joe Donahue

Tradução: Diego Teza

Direção: Fernando Philbert

Atuação: Kiko Mascarenhas

Preparação de ator: Ana Luiza Folly

Direção de Arte: Luciane Nicolino

Figurino: Tereza Nabuco

Adereços: Luciane Nicolino e Mauro Vicente Ferreira

Operação Luz e Som: Walace Meirelles

Contrarregragem: Conceição Telles

Direção de Produção: Cristiana Lara Resende

Assistência de Produção: Daniel Marques

Co-produção: Ufa! Produções Artísticas Ltda

Produção e Realização: KM ProCult

Serviço

ONDE: Teatro Poeira – R. São João Batista, 104, Botafogo/RJ - Tel: (21) 2537-8053

HORÁRIOS: 5ª a sab às 21h e dom às 19h

INGRESSOS: R$ 80 e R$ 40 (meia)

VENDAS ONLINE: www.sympla.com.br/

DURAÇÃO: 70 min

CLASSIFICAÇÃO: 12 anos

GÊNERO: comédia dramática

CAPACIDADE: 160 espectadores

TEMPORADA: até 27 de agosto

https://www.instagram.com/todasascoisasteatro/



POSIÇÃO 2 - ALERJ 1190X148
DOE SANGUE - POSIÇÃO 2 1190X148
TOPO - PRINCIPAL 1190X148
POSIÇÃO 3 - ALERJ 1190X148
POSIÇÃO 3 - ALERJ 1190X148
Saiba como criar um Portal de Notícias Administrável com Hotfix Press.